Antonin
Artoud escreve a obra O teatro e seu duplo imerso no ambiente romântico do
final do século dezenove. Época do surgimento da ciência moderna, que teve seu
desenvolvimento diretamente ligado a praticas alquímicas e ocultas. O ocultismo
pose ser descrito como uma ciência dos princípios, um estudo aplicado de
sistemas de símbolos e signos que derivam de um arquétipo primordial, ou
melhor, falando de um movimento, de um ritmo produtor de símbolos.
Em
sua obra Artaud fala muito sobre, sombras, projeções, emanações esses conceitos
(como outros em sua obra) nem sempre ficam claros a uma primeira leitura, eu
por meios destas reflexões vou tentar desenvolver alguns dos conceitos
alquímicos utilizados como bases para as afirmação da obra de Artaud.
Segundo
a tradição hermética de origem egípcia referencia a todas praticas magicas
europeias, no inicia havia apenas uma consciência sozinha no universo,
consciência essa que é representada por um olho, a luz primordial da qual todas
as outras são reflexos. Esta consciência tendo como faculdade única apenas
perceber, percebeu a única coisa que era possível ser percebida naquele
momento, ou seja, percebeu a si mesma. No momento que se auto observou esta
consciência se dividiu em duas(paradoxo
primordial dos polos contrários que se complementam) uma que observa e outra que é observada, é como se a consciência houvesse
criado a sua volta um espelho que reflete a si própria olhando para si mesma,
que por sua vez cria um reflexo do própria reflexo e assim indefinidamente,
segundo a tradição Hermética nesses infinitos reflexos da consciência
primordial estaria contido tudo o que existe.
Para
Artaud assim como para os ocultistas tudo no mundo, no universo, em cena, se
trata de signos e símbolos. E a
linguagem cênica deve ser não a das palavras, mas a dos próprios símbolos que
se configuram das mais diversas formas possíveis no corpo na imagem no som nos cheiros...
A tabua de esmeralda antigo manuscrito egípcio atribuído a Toth (deus do “verbo”
embora para alguns tenha sido um grande sábio e mago...) vêm nos trazer o
principio oculto que diz: O que esta em cima é igual o que esta em baixo tanto
macrocosmos quanto no microcosmo, tendo em vista que esta mesma tradição nos
conta que o ser humano é um universo em miniatura, o reflexo da própria íris do
olho primordial. Podemos identificar os dois polos da mente humana, objetivo
racional e sensível subjetivo, respectivamente com a consciência primordial e o
espelho que a reflete.
Este
espelho primordial que na psicologia de Jung podemos vincular ao subconsciente,
este sempre sujeito a percepção da consciência. E na medida em que o consciente
percebe o subconsciente, cria uma ideia a cerca dele e acaba por transforma-lo.
Nossas mentes estão o tempo todo percebendo não apenas a si mesmas, mas a
outras mentes e os reflexos diversos que formam a realidade ao nosso redor, por
isto estamos o tempo nos transformando e esta é a dinâmica da vida, dinâmica
que Artaud enxergava, e tratava de condenar veemente o apego às formas
estagnadas, comportamento que acaba por dar fim ao movimento intrínseco
primordial.
Podemos
identificar os dois elementos constituintes do paradoxo primordial com duas
funções presentes na mente humana: a de projeção e a de recepção dos reflexos
presentes na realidade, neste ponto concordo inteiramente com o ponto de vista
de Artaud na verdade mais que isso ele me faz refletir imensamente sobre as
possibilidades do teatro. Afinal que outra coisa é capaz de produzir reflexos
tão fortes e intensos capazes de sacudir o nosso mundo interno? O teatro é um
festival épico de projeções que podem alcanças os recantos mais íntimos,
escondidos e principalmente (também preferencialmente para Artaud) os não
vividos e talvez não vivíveis. O teatro pode dar vida a dimensões que estão
além do nosso alcance, além dos limites que as leis universais da natureza nos
permitem irem. Pode nos levar a dimensões de fantasia, a dimensões de sonho a
dimensões de delírio.
Artaud
nos diz: O espírito acredita no que vê e faz aquilo em que acredita: esse é o
segredo do fascínio. Embora ele não explicite as premissas contidas nesta frase
ela se faz entendível aos entendedores da linguagem codificada simbólica. O
consciente é formado por um processo de construção (a um primeiro momento
inconsciente) baseado na identificação das sensações como agradáveis ou não
agradáveis, a constante exposição a percepções dos mais variados tipos, vai
construindo um conjunto de particularidades possíveis de se perceber naquela
sensação. A constante repetição das sensações vai modelando o consciente e
formando a personalidade, como todas as percepções ficam gravadas no
subconsciente indiretamente o individuo toma decisões e executa ações sobre a
influencia delas. Quando comovido pela identificação o ser se fascina por um
determinado objeto e toma para a si as projeções emitidas pelo objeto, que o
influencia na medida em que toma espaço pela repetição no seu subconsciente (no
consciente também) e influencia a tomada de suas decisões.
Para
a mente que assiste a uma peça de teatro e se identifica ao ponto do fascínio
com a representação ,imaginem a intensidade com que ela projeta a sua carga
emocional (ou talvez intelectual também?) no espectador identificado.
O
teatro é uma linguagem capaz de uivar fundo dentro da alma das pessoas é capaz
de integrar toda a necessidade pelo magico, pelo não realizável, pelo proibido,
como algo realizado na personalidade do individuo. E por isto desta forma
calado, pois todo reflexo gerado na mente humana que não cria asas a realidade
de alguma forma nem indiretamente que seja, nunca sessara de reivindicar a sua
vez. Podendo levar a depressão e a ansiedade egocêntrica crônica tão
característica a nossa sociedade.
Referencias
bibliográficas:
Levi,Elphas.Dogma
e ritual de alta magia. Editora Madras.
Jung,Carl
Gustav. AION estudos sobre o simbolismo do si mesmo.Editora Vozes.
Artaud,Antonin.
O teatro e o seu duplo. Arquivo online: http://xa.yimg.com/kq/groups/24940125/192578254/name/Antonin+Artaud+-+O+Teatro+e+Seu+Duplo.pdf
Camaysar,
Rosabis.O Caibalion. http://www.hermetics.org/pdf/KybalionBr.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário